Dandara dos Palmares, ícone da resistência à escravidão
- 28 de junho de 2020
- 10:19
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- Tayla Pinotti
Zumbi dos Palmares é, sem dúvidas, a liderança negra que mais se destaca nos livros tradicionais de história. Mas, tão relevante para a luta antirracista durante o período colonial do Brasil foi sua companheira, Dandara dos Palmares, uma mulher negra que se tornou símbolo de resistência à escravidão.
Considerada a face feminina de Zumbi, Dandara participava ativamente na elaboração de estratégias de defesa do Quilombo dos Palmares, o maior refúgio de escravos africanos e afrodescendentes do período de colonização. Ela foi responsável por liderar multidões femininas do exército negro de Palmares, em Pernambuco.
Apesar de ter sido uma figura extremamente importante para a história do país, ainda nos dias atuais não existem muitas informações e dados sobre a vida de Dandara dos Palmares, o que faz com que muitos mistérios pairem sobre a heroína. Não se sabe ao certo onde ela nasceu e nem sobre sua ascendência africana, por exemplo.
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Para muitos estudiosos, o legado de Dandara foi intencionalmente prejudicado por seus inimigos escravistas. Além disso, a líder quilombola sempre foi colocada à sombra de Zumbi – com quem se casou e teve três filhos – aparecendo, muitas vezes, apenas como uma “auxiliar” de suas estratégias.
A verdade, porém, é que Dandara derrubava todos os estereótipos de mulher frágil: além de ser uma ótima caçadora, empunhava armas e ainda tinha habilidades com a capoeira – não à toa, continuou sendo um verdadeiro símbolo de força, luta e resistência mesmo após sua morte.
Quilombo dos Palmares
Os quilombos foram uma das maiores expressões de luta organizada durante a escravidão no Brasil e, desde o princípio da colonização no século XVI, os africanos se engajaram num combate firme contra a condição de escravizados, recusando-se à submissão, à exploração e à violência do sistema colonial.
Quando o Quilombo dos Palmares surgiu, era formado por escravos de origem angolana que haviam fugido das fazendas de cana-de-açúcar. Nos 100 anos de existência do local, porém, chegou a abrigar cerca de 20 mil habitantes, incluindo índios e brancos marginalizados.
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Os quilombos tinham organização sócio-econômico-política própria e, em Palmares, Dandara fazia parte das atividades cotidianas e atuava principalmente na produção de gêneros agrícolas como a cana, o milho, a mandioca e a banana. Ela também aprendeu a caçar e teve uma atuação relevante como caçadora.
Segundo historiadores, a guerreira negra ainda teria sido uma figura importantíssima na mudança do rumo que o Quilombo dos Palmares passou em relação à política com os vizinhos no final do reinado de Ganga-Zumba, o primeiro líder do quilombo de Zumbi e Dandara.
Em 1968, Ganga, que era tio de Zumbi, assinou um “tratado de paz” com o governo pernambucano que previa que as autoridades libertassem palmarinos, que haviam sido feito prisioneiros em um dos confrontos, e dos nascidos em Palmares, além da permissão para realizar comércio.
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Dandara, porém, nunca aceitou o acordo feito com os colonos, pois, além de não prever o fim da escravidão, esse trato também determinava que os habitantes do Quilombo dos Palmares deveriam entregar escravos fugitivos que ali buscassem abrigo.
Ganga-Zumba acabou sendo morto por um dos palmarinos contrários à sua proposta e Zumbi, que se tornara o líder, fora fortemente influenciado pela companheira, que não mediu esforços na luta contra o sistema escravocrata e o racismo do período colonial.
Morte trágica e honrada
Não é exagero dizer que Dandara lutou até o último segundo de sua vida. A líder quilombola se suicidou em 6 de fevereiro de 1694 após ser presa, Dandara se jogou de uma pedreira ao abismo. Estudiosos afirmam que seu amor pela liberdade era tão grande, que a heroína preferiu se matar a perdê-la.
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Atualmente, Dandara é aclamada oficialmente como Heroína da Pátria – o Livro dos Heróis da Pátria encontra-se depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. A decisão foi feita apenas em 2019, através da Lei de número 13.816, mas foi considerada uma vitória do movimento negro no Brasil.
Agora que você conhece a história de Dandara dos Palmares, que tal inspirar os pequenos dando a eles (ou à elas) um desenho de colorir? Representatividade importa!