Saiba mais sobre moda inclusiva, um conceito que valoriza pessoas com deficiência

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 Vitoria e Cuervo

Dados do IBGE mostram que, no Brasil, existem 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, ou seja, 23,9% da população do país. Apesar do número expressivo, ainda há poucas iniciativas e projetos para além de datas específicas, como o Dia Internacional do Portador de Deficiência.

O mercado voltado para esse público ainda é muito restrito em diversos segmentos, mas no mundo fashion, a moda inclusiva tem ganhado força, mostrando, inclusive, um modelo de negócio com um bom potencial de consumo, não necessariamente vinculados a um dia da inclusão.

Estilista e autora do blog “Ou Tudo ou Moda”, Vitória Cuervo notou a necessidade de existir um mercado voltado para pessoas com deficiência quando ainda estava na faculdade de moda.

Ela conta que ao ver um cadeirante nas dependências da universidade, começou a se questionar como ele fazia para se vestir e se ele conseguia usar as mesmas roupas que seus amigos usavam.

Foi então que deu início a um estudo que buscava entender as implicações e limitações do vestuário para mulheres cadeirantes e percebeu que elas precisavam de roupas específicas para seu cotidiano.

“Conversei com várias mulheres e elas me relataram que tinham muita dificuldade para encontrar roupas adequadas, então muitas vezes compravam uma peça e mandavam na costureira para fazer ajustes. No entanto, a peça acabava perdendo o caimento e elas não conseguiam mais usá-la. Depois que colhi esses depoimentos, cheguei à conclusão de que um mercado para pessoas com deficiência era fundamental e que eu trabalharia com isso depois que me formasse”, conta a estilista.

E foi o que aconteceu. Hoje com 37 anos, Vitória tem sua própria marca e chegou a ficar em segundo lugar na terceira edição do concurso Moda Inclusiva de São Paulo.

Moda em Rodas

Heloísa Rocha, 34, é uma das mulheres que podem comemorar o avanço do mercado de moda inclusiva. Isso porque a jornalista nasceu com uma doença rara chamada osteogênese imperfeita, cuja principal manifestação clínica é a fragilidade óssea.

Em razão das inúmeras fraturas que teve ao longo da vida, inclusive no útero, Heloísa tem deformidades nos membros superiores e inferiores, o que a levou à condição de usar uma cadeira de rodas para se locomover.

Neta e sobrinha de costureiras, Heloísa sempre se interessou por moda e, em outubro de 2015, criou o blog Moda em Rodas para compartilhar seus looks, dar dicas e provar que estilo não depende de condição física, altura ou peso (a jornalista tem menos de um metro de altura e pesa menos de 20 quilos).

Ela conta que sempre precisou recorrer ao setor infantil das grandes lojas para se vestir e que enfrentava dificuldade na hora de escolher as roupas. A maioria das peças deixa seus seios achatados, as mangas e barras das roupas ficam compridas e algumas peças não chegam nem a entrar em seu corpo, porque ela tem ombros estreitos e uma escoliose bastante acentuada.

No entanto, Heloísa enfatiza que aprendeu a driblar esses problemas. Hoje, ela ajuda seus seguidores a encontrar e montar looks adaptados para suas próprias necessidades.

“As perguntas mais frequentes são sobre onde mando confeccionar os meus calçados ou sobre os tecidos que opto e como combinar determinadas peças. As dicas que dou são desde a escolha das peças, a razão da combinação, o lugar onde as compro até os truques que aprendi ao longo da vida. Meus seguidores me enxergam como uma referência que é inexistente na grande mídia, na publicidade ou na passarela”.

Lado B Moda Inclusiva

Outra marca que também é referência é a Lado B Moda Inclusiva, que surgiu em 2013. Foi idealizada pela Dra. Dariene Rodrigues, fisioterapeuta que atuou durante 13 anos no atendimento às pessoas com patologias neurológicas e ortopédicas.

Para ela, a moda inclusiva é um novo conceito que veio para facilitar o cotidiano das pessoas com deficiência por meio de soluções e inovações ergonômicas no acabamento das peças ou nas modelagens como um todo.

A Lado B moda inclusiva confecciona calças, bermudas e cuecas masculinas adaptadas, com vários tipos de tecidos, aviamentos e modelagens com aberturas estratégicas, possibilitando um maior conforto e praticidade durante as ações de vestir, despir e praticar as atividades de higiene pessoal (uso de sonda, bolsa coletora ou a prática do cateterismo) ou utilização de algum tipo de órtese ou prótese.

Também disponibilizam algumas peças de moda feminina e infantil, além de acessórios e produtos para fins ortopédicos.

Moda inclusiva não é só para pessoas com deficiência

Dra. Dariene, Heloísa e Vitória concordam que a moda inclusiva é importante para que pessoas com deficiência se sintam elegantes e estilosas, mas vale lembrar que o conceito “inclusivo” significa que as peças podem ser usadas por qualquer pessoa, seja ela deficiente ou não.

Uma calça confeccionada para um cadeirante, por exemplo, tem algumas adaptações e características diferentes de uma calça comum, mas isso não impede que pessoas que não usam cadeira de rodas possam usá-la.

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A estilista Vitória Cuervo lembra que a população ainda não tem a cultura de comprar uma roupa adaptada, mas acredita que o fato de já haver um mercado voltado para esse público é um enorme avanço. 

Incluir pessoas com deficiência no mundo da moda ajuda a aproximá-las da sociedade como um todo e afasta o estereótipo de que esse esse é um assunto apenas tratado no Dia Internacional do Portador de Deficiência. Valorize este mercado!



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