Por que a camisinha é importante em qualquer situação?

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  • Talitha Benjamin
 Imagem de duas camisinhas encima uma superfície

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) reconhece o Brasil como referência mundial no controle da epidemia, no tratamento e na prevenção do vírus (HIV) e da doença causada por ele (AIDS). No entanto, quando falamos sobre a população, ainda existe uma enorme dificuldade em abordar a educação sexual e a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) com o uso da camisinha, temas que ainda são repletos de tabus.

Um destes tabus é o uso correto do preservativo: por mais que seja amplamente recomendada e distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS), poucas pessoas sabem como, quando e com quem usar a camisinha corretamente: a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada em 2021, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que menos de 23% de brasileiros utilizam o preservativo em todas as relações sexuais. Conforme a mesma pesquisa, a ausência do preservativo é particularmente observada em relacionamentos monogâmicos: 73,4% afirmaram não usar proteção por confiarem no parceiro.

É normal que casais, após certo tempo de envolvimento, decidam abandonar o uso do preservativo. No entanto, o consenso médico e especialista é de que a única forma de prevenir ISTs é usando a camisinha – além da realização de exames roteiros para diagnosticar possíveis infecções em seu estágio inicial. No entanto, abordar este assunto com o parceiro pode ser bastante desafiador. Para saber mais sobre como se proteger, é necessário entender o porquê o uso do preservativo é imprescindível em toda e qualquer relação sexual, além de ter em mente quais são os riscos que uma relação desprotegida oferece. Veja abaixo:

O que é camisinha? Qual sua importância?

Comercializada e distribuída gratuitamente por todo o país em diferentes tamanhos e materiais, a camisinha é o único método contraceptivo que une a prevenção da gravidez com a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis. Assim, é o método mais eficaz de proteção, se usado corretamente. A camisinha foi popularizada na década de 1980, depois que a epidemia de HIV/AIDS passou a evidenciar os riscos do sexo desprotegido. No entanto, na época, havia uma grande campanha midiática e política para associar o HIV e a AIDS aos homossexuais e transsexuais (no Brasil, o vírus era conhecido e chamado pelos jornais de “vírus gay”).

A herança desta associação foi a criação de um tabu gigantesco em cima da prevenção sexual. Apesar de ser referência no tratamento, prevenção e detecção de ISTs, na prática, o uso e a preocupação com o preservativo ainda é associado à homossexualidade e promiscuidade: um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) apontou que, embora saibam o que é uma IST, 80% dos homens entrevistados, solteiros ou em relações fixas, se consideram fora do risco de contaminação. Enquanto isso, de acordo com uma pesquisa feita pela fabricante de preservativos Olla, 37% das mulheres se sentem julgadas ao comprarem as camisinhas, enquanto apenas 29% carregam o preservativo na bolsa. Até hoje, falar sobre AIDS, ISTs e camisinha ainda é muito restritivo à comunidade LGBTQIA+, e até mesmo por parte do estado, os esforços para abordar a prevenção entre casais heterossexuais são mínimos.

Camisinha nas relações estáveis: usar ou não usar?

Depois de um certo tempo de relação, é natural que um casal decida por não usar mais preservativos durante o sexo. As conversas sobre o assunto podem ser estimulantes e divertidas, mas dificilmente a prevenção de ISTs é falada entre parceiros sexuais, até mesmo entre casais juntos há muito tempo: um estudo online realizado pela pesquisadora estadunidense Margo Mullinax, da Universidade de Indiana, constatou que mais da metade dos participantes que faziam parte de um relacionamento monogâmico relataram desconforto em abordar a prevenção sexual com o parceiro. Mais da maioria dos entrevistados também afirmou não ter costume de fazer exames para diagnosticar possíveis infecções antes das relações sexuais casuais ou com parceiros fixos.

O tabu ao redor do assunto dificulta ainda mais a conversa honesta sobre sexo seguro. Isto porque o tema ainda envolve questões delicadas e complexas, como fidelidade, monogamia, histórico sexual e por aí vai. Além disso, esta resistência em discutir a melhor forma de se proteger também coloca em risco a saúde e a vida dos envolvidos: a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 aponta para aproximadamente 1 milhão de novos infectados por ISTs, correspondendo a 0,6% da população adulta do país. Inúmeros relatos de pessoas que descobriram traições após infectadas passaram a pipocar nas redes sociais nos últimos tempos. O diagnóstico precoce e o tratamento para as ISTs, é essencial para prevenir que evoluam para doenças graves e fatais.

É importante frisar que, a recomendação atual dos principais órgãos de saúde e de prevenção, é que o preservativo seja utilizado em toda e qualquer relação sexual, independente de quem seja, incluindo durante o sexo oral. No que se refere a relacionamentos, a recomendação do Programa Estadual de DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo é de que, no caso de relacionamentos monogâmicos que não fazem o uso do preservativo, o casal recorra, juntos e anualmente, aos exames de diagnósticos de HIV e sífilis, além de manter as vacinas contra HPV e hepatite em dia — todos estes oferecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. Assim, ambos garantem a segurança sexual.

Como abordar o uso da camisinha de uma forma saudável e franca?

Com tantos tabus e repressões ao redor do assunto, abordar a prevenção sexual no relacionamento não é uma tarefa simples. A primeira coisa a se considerar é a importância do assunto: a prevenção é importante não só para a sua segurança, mas também para a de seu parceiro. Envolve honestidade, confiança e zelo e respeito pelo corpo do outro.

É importante também estar munida de informações sobre a eficácia, os exames necessários e quais são os riscos. Assim, você estará preparada para argumentar e também para compartilhar as informações com o seu parceiro. Informe-se com o seu médico e procure o posto de saúde mais próximo para realizar seus exames, retirar preservativos e se informar sobre a prevenção.

Além disso, é importante também despir-se de preconceitos: muitas vezes, a presença ou até mesmo a preocupação com a prevenção de ISTs está relacionada à promiscuidade, principalmente para a mulher, traição ou homossexualidade. É importante ressaltar que os tabus apenas dificultam a conversa e impedem uma conversa honesta e direta sobre a saúde sexual do casal.



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