A ditadura do cabelo natural existe? Veja relatos de quem sofreu com isso

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  • Thauany Lima
 Ditadura do cabelo natural

Que o cabelo natural é lindo, todo mundo sabe, não é mesmo? Mas será que aceitar o cabelo da forma que ele é organicamente se tornou uma obrigação?

Algumas pessoas afirmam sentir uma pressão social quando o assunto é cabelo, afinal de contas, com o empoderamento negro ganhando força, a aceitação do fio natural virou um assunto delicado entre as mulheres.

Aceitar as madeixas – para algumas delas – é basicamente sinônimo de amor pela ancestralidade. Além disso, o fato de alisar o cabelo se tornou uma consolidação dos estereótipos de beleza que inferiorizam as características da população afro.

Porém, mesmo esses assuntos tendo total fundamento, ditar uma nova ordem aos cabelos não parece o caminho certo.

Mas afinal, a ditadura do cabelo natural existe?

Aracélly de Oliveira Alves, 33 anos, alisou os fios por muito tempo, interrompendo o processo há pouco mais de 4 anos. “Acredito que a ditadura do cabelo natural existe sim. Não quero generalizar, mas há pessoas que querem impor algo à outra, forçando uma característica que deveria ser uma escolha natural”.

Bárbara Cardoso (27), alisa as madeixas desde os 14 anos e também acredita que existe uma intolerância por parte da militância negra a respeito do cabelo alisado. “Sempre que falo sobre progressiva nos meus stories do instagram, tem seguidoras que me questionam e outras que até não aceitam o fato de eu alisar o cabelo. Alguns comentários chegam a ser ofensivos sobre a minha decisão.”

Porque alisar o cabelo natural?

Muita gente, mesmo sabendo o significado do alisamento e o quanto ele contribui para fortalecer os estereótipos de beleza eurocentrista, acaba preferindo o cabelo alisado por se identificar e se sentir bonita dessa maneira.

Bárbara explica o porque escolheu viver com o cabelo alisado: “O meu cabelo natural não tem definição, ele não é um cacheado bonito. Quando eu era mais nova, usei inúmeros ativadores de cachos, cremes de pentear, entre outros produtos, mas não adiantou. Alisando o cabelo eu me encontrei, eu nasci para ser lisa, me sinto muito mais bonita e poderosa desta maneira. Não me vejo cacheada, não me sinto bem.”

Aracélly de Oliveira assumiu o crespo, mas mesmo assim acredita que não deve se impor regras para as pessoas. “Hoje não sinto falta e nem necessidade de alisar o cabelo novamente. Acredito que devemos respeitar a opinião do outro e nos conscientizar sobre nossas atitudes para não alimentar uma nova ditadura, mas sim levantar a bandeira de sermos livres e lindas da maneira e da forma que quisermos.”

Contudo, quando saímos de uma ditadura do cabelo alisado, para a ditadura do cabelo natural, a falta de liberdade de escolha continua fazendo parte da vida das mulheres.

A palavra do século deveria ser “sororidade”, o que simboliza o companheirismo feminino, de todas as formas, onde todas caminham juntas para o mesmo lugar, para colher os mesmos benefícios, sem deixar nenhum para trás.



Comentários

  1. Quando decidi assumir o meu cabelo natural, não imaginava de como ele seria, apenas não queria mais ficar “refém” do alisamento que muito das vezes não ficava como eu queria. E foi aí que decidi assumir o meu natural mesmo não sabendo de como ele seria. Até que ele.foi crescendo e fui me apaixonando a cada vez mais. Vou fazer dois anos com o cabelo natural, não penso em alisa lo novamente. Me sinto bem como estou, me sinto livre.

  2. Jéssica Verônica disse:

    Meu cabelo no natural é um ondulado entre p tipo 2A e o tipo 2B tenho partes com as duas texturas, e eu aliso meu cabelo desde os 13 anos, sou feliz com o cabelo liso e ponto, não me identifico com o meu tipo natural de cabelo, também nasci para ser lisa. Já cheguei a princípio de depressão por olhar no espelho e não me ver, por não estar com o cabelo liso, porque pra mim eu só sou realmente eu mesma se estou com os fios lisos e assim eu sou feliz. Acho essa pressão da ditadura dos fios naturais assim como a dos fios lisos uma prova de que não a sociedade não deu uma passo ora frente, ela simplesmente ficou mesmo mesmo lugar, já que ainda não somos livres para sermos do jeito que quisermos.

  3. Katia Faria disse:

    Eu passei pelo contrário e isso é muito doido e triste. Tenho cabelo crespo/ cacheado desde sempre. Como tenho pele clara, praticamente todo dia ouvia que tinha que fazer escova, tinha que alisar, o cabelo não combinava comigo porque eu sou clara, não ia arranjar emprego com o cabelo crespo, era ridículo o cabelo, não tinha escova em casa, até o famoso “seu cabelo é lindo, mas vai acabar tendo que alisar quando
    precisar trabalhar” … alisei uma vez pra deixar os outros felizes e me detestava ao olhar no espelho.
    Tenho 42 anos e passei praticamente 35 anos da minha vida ouvindo isso.
    Estou radiante com essa aceitação ao fio natural! Acho lindo ver tanta gente cacheada na rua! Até saio sorrindo para as cacheadas por aí, é uma forma de dizer obrigada!
    Acho mesmo que cabelo é uma coisa pessoal e cada um deve usar o cabelo que se sente bem!
    O lance é se olhar no espelho e se sentir maravilhosa, esse é o verdadeiro empoderamento!

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