Rosa Parks, norte-americana que desafiou as leis segregacionistas dos anos 50

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  • Tayla Pinotti
 Rosa Parks

Impossível falar sobre o racismo no mundo sem olhar para trás e notar que há pouquíssimo tempo a segregação racial era legítima, legal e praticada em diversos países, como nos Estados Unidos, por exemplo. Rosa Parks, uma mulher negra do Alabama, sentiu na pele os efeitos dessa discriminação ao longo de toda a sua vida, especialmente durante os anos 50.

A ativista negra ficou famosa após se recusar a entregar seu assento a um passageiro branco em um ônibus segregado em Montgomery, no Alabama. A reação causou sua prisão, mas também foi um ponto de virada para fortalecer os movimentos negro dos direitos civis dos negros nos EUA.

Infância e trajetória

Rosa Louise McCauley nasceu no dia 4 de fevereiro de 1913, em Tuskegee, no Alabama. Seus pais, James e Leona McCauley, se separaram quando ela tinha dois anos e, com isso, a família mudou-se para Pine Level, Alabama, para morar com os pais de Leona. Os avós de Parks, que foram escravizados, eram fortes defensores da igualdade racial.

A infância de Parks trouxe suas primeiras experiências com discriminação racial. Em uma delas, o avô de Parks estava na frente de sua casa com uma espingarda, enquanto os membros da Ku Klux Klan marchavam pela rua. Além disso, durante a educação de Parks, ela frequentou escolas segregadas e com péssimas estruturas.

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Foi somente a partir dos 11 anos que Parks passou a frequentar a Escola Industrial para Meninas da cidade em Montgomery. Em 1929, enquanto cursava a 11ª série e frequentava uma escola de laboratório para o ensino médio, liderada pelo Alabama State Teachers College for Negroes, Parks deixou a escola para atender a avó e a mãe doentes em Pine Level.

A ativista, porém, não retomou os estudos. Em vez disso, conseguiu um emprego em uma fábrica de camisas em Montgomery. Depois de se casar em 1932 – aos 19 anos -, obteve o ensino médio com o apoio do marido, Raymond Parks, que era barbeiro e membro ativo da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor).

Depois de terminar o colegial com o apoio de Raymond, Rosa se envolveu ativamente em questões de direitos civis ao ingressar no capítulo de Montgomery da NAACP em 1943, servindo como líder da juventude do capítulo e como secretária do presidente da NAACP, cargo que ocupou até 1957. O casal nunca teve filhos.

Rosa Parks e o Boicote aos ônibus de Montgomery

Boicote aos ônibus de Montgomery Rosa Parks

Após um longo dia de trabalho em uma loja de departamentos de Montgomery, onde trabalhava como costureira, Parks embarcou no ônibus da Cleveland Avenue para casa. Ela sentou-se na primeira das várias filas designadas para passageiros “de cor”, como eram chamados os afro-americanos. O transporte público na cidade de Montgomery era legalmente segregado por raça desde 1900.

Enquanto o Parks seguia em sua rota, o ônibus começou a encher de passageiros brancos e o motorista percebeu que vários deles estavam no corredor. Ele, então, parou o ônibus e moveu a placa que separava as duas seções atrás de uma fila, pedindo a quatro passageiros negros que dessem o lugar para que os outros se sentassem.

Três dos outros passageiros negros cumpriram a “ordem” do motorista, mas Parks se recusou e permaneceu sentada. O motorista perguntou por que ela não havia se levantado e ela respondeu: “Eu não deveria ter que me levantar”. Depois disso, ele chamou a polícia e mandou prender Rosa Parks.

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A polícia acusou-a de violar o capítulo 6, seção 11, do código da cidade de Montgomery. Ela foi levada para a sede da polícia, onde, mais tarde naquela noite, foi libertada sob fiança. Diversos ativistas dos direitos civis viram no caso de Parks uma oportunidade para chamar a atenção do público para o fim da segregação racial nos Estados Unidos.

Três dias após o ocorrido, foi convocado o chamado Boicote aos ônibus de Montgomery, que chegou a contar com a participação de ícones como Ralph Abernathy e Martin Luther King. Os mais de 40 mil usuários negros de ônibus da cidade e arredores ainda prosseguiram com o boicote por 381 dias.

No ano seguinte ao início do protesto, em 1956, com as empresas de transporte público sofrendo perdas financeiras e o sistema legal indo contra elas, a Suprema Corte Americana, finalmente, julgou inconstitucional a segregação racial em transportes públicos.

“As pessoas disseram ao longo dos anos que eu não desisti do meu assento porque estava cansada. Mas eu não estava fisicamente cansada, meus pés não estavam doendo. Eu estava cansada de uma maneira diferente. Eu estava cansado de ver tantos homens sendo tratados como meninos e não sendo chamados por seus nomes. Eu estava cansada de ver crianças e mulheres maltratadas e desrespeitadas por causa da cor de sua pele. Eu estava cansada das leis de Jim Crow, da segregação racial legalmente aplicada”, teria dito a ativista ao relembrar o episódio do ônibus anos depois.

Morte e legado de Rosa Parks

Estatua da Rosa Parks dentro do ônibus

Em 24 de outubro de 2005, Rosa Parks morreu silenciosamente em seu apartamento em Detroit, Michigan, aos 92 anos de idade. Ela havia sido diagnosticada no ano anterior com demência progressiva, da qual sofria desde 2002. Ela foi enterrada entre o marido e a mãe no cemitério Woodlawn de Detroit, no mausoléu da capela.

Seu caixão foi velado com honras da Guarda Nacional do Estado de Michigan. Diversas autoridades e antigas lideranças dos movimentos civis compareceram ao seu funeral e, logo após sua morte, a capela onde havia sido enterrada foi renomeada como Rosa L. Parks Freedom Chapel. Além disso, seu caixão foi colocado na Rotunda do Capitólio dos Estados Unidos para exibição pública e recebeu cerca de 50.000 pessoas em apenas dois dias.

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Em 15 de setembro de 1996, o então presidente Bill Clinton concedeu a Parks a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior honra dada pelo ramo executivo dos Estados Unidos. No ano seguinte, recebeu a Medalha de Ouro do Congresso, o maior prêmio concedido pelo Poder Legislativo dos EUA.

Em fevereiro de 2013, quando a ativista completaria 100 anos, o então presidente Barack Obama revelou uma estátua em homenagem a Rosa Parks no edifício do Capitólio do país. Foi a primeira vez que uma mulher negra recebeu este tipo de homenagem 50 anos após a aprovação das leis sobre direitos cívicos nos Estados Unidos e 150 anos depois da declaração de emancipação assinada por Abraham Lincoln.

Ilustração com imagem de Rosa Parks

E agora que você conhece a história da ativista Rosa Parks, que tal inspirar os pequenos dando a eles (ou à elas) um desenho de colorir? Representatividade importa!



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